4 de janeiro de 2009

A LER OBRIGATORIAMENTE

Se tudo o que constar a seguir corresponde à verdade verdadeira, esta guerra (como praticamente quase todas) é mais uma vergonha para a condição humana, e uma imoralidade colossal por parte do estado de Israel, atendendo à sua história mais recente.
Espero que este "CTRL+C, CTRL+V" seja proveitoso para vocês como o foi para mim.
Mais uma vez, obrigado Jardineira Aprendiz pela dica.

Grito e choro por Gaza e por Israel de Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre

Há momentos em que a nossa consciência nos impede, perante acontecimentos trágicos, de ficarmos silenciosos porque ao não reagirmos estamos a ser cúmplices dos mesmos por concordância, omissão ou cobardia.
O que está a
acontecer entre Gaza e Israel é um desses momentos. É intolerável, é inaceitável e é execrável a chacina que o governo de Israel e as suas poderosíssimas forças armadas estão a executar em Gaza a pretexto do lançamento de roquetes por parte dos resistentes (“terroristas”) do movimento Hamas.

Importa neste preciso momento refrescar algumas mentes ignorantes ou, muito pior, cínicas e destorcidas:
- Os jovens palestinianos, que são semitas ao mesmo título que os judeus esfaraditas (e não os askenazes que descendem dos kazares, povo do Cáucaso), que desesperados e humilhados actuam e reagem hoje em Gaza são os netos daqueles que fugiram espavoridos, do que é hoje Israel, quando o então movimento “terrorista” Irgoun, liderado pelo seu chefe Menahem Beguin, futuro primeiro ministro e prémio Nobel da Paz, chacinou à arma branca durante uma noite inteira todos os habitantes da aldeia palestiniana de Deir Hiassin: cerca de trezentas pessoas. Esse acto de verdadeiro terror, praticado fria e conscientemente, não pode ser apagado dos Arquivos Históricos da Humanidade (da mesma maneira que não podem ser apagados dos mesmos Arquivos os actos genocidários perpetrados pelos nazis no Gueto de Varsóvia e nos campos de extermínio), horrorizou o próprio Ben Gourion mas foi o acto hediondo que provocou a fuga em massa de dezenas e dezenas de milhares de palestinianos para Gaza e a Cisjordânia possibilitando, entre outros factores, a constituição do Estado de Israel..
- Alguns, ou muitos, desses massacrados de hoje descendem de judeus e cristãos que se islamisaram há séculos durante a ocupação milenar islâmica da Palestina. Não foram eles os responsáveis pelos massacres históricos e repetitivos dos judeus na Europa, que conheceram o seu apogeu com os nazis: fomos nós os europeus que o fizemos ou permitimos, por concordância, omissão ou cobardia! Mas são eles que há 60 anos pagam os nossos erros e nós, a concordante, omissa e cobarde Europa e os seus fracos dirigentes assobiam para o ar e fingem que não têm nada a ver com essa tragédia, desenvolvendo até à náusea os mesmos discursos de sempre, de culpabilização exclusiva dos palestinianos e do Hamas “terrorista” que foi eleito democraticamente mas de imediato ostracizado por essa Europa sem princípios e anacéfala, porque sem memória, que tinha exigido as eleições democrática para depois as rejeitar por os resultados não lhe convirem. Mas que democracia é essa, defendida e apregoada por nós europeus?
- Foi o governo de Israel que, ao mergulhar no desespero e no ódio milhões de palestinianos (privados de água, luz, alimentos, trabalho, segurança, dignidade e esperança ), os pôs do lado do Hamas, movimento que ele incentivou, para não dizer criou, com o intuito de enfraquecer na altura o movimento FATAH de Yasser Arafat. Como inúmeras vezes na História, o feitiço virou-se contra o feiticeiro, como também aconteceu recentemente no Afeganistão.
- Estamos a assistir a um combate de David (os palestinianos com os seus roquetes, armas ligeiras e fundas com pedras...) contra Golias (os israelitas com os seus mísseis teleguiados, aviões, tanques e se necessário...a arma atómica!).
- Estranha guerra esta em que o “agressor”, os palestinianos, têm 100 vezes mais baixas em mortos e feridos do que os “agredidos”. Nunca antes visto nos anais militares!
- Hoje Gaza, com metade a um terço da superfície do Algarve e um milhão e meio de habitantes, é uma enorme prisão. Honra seja feita aos “heróis” que bombardeiam com meios ultra-sofisticados uma prisão praticamente desarmada (onde estão os aviões e tanques palestinianos?) e sem fuga possível, à semelhança do que faziam os nazis com os judeus fechados no Gueto de Varsóvia!
- Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu do qual temos todos pelo menos uma gota de sangue (eu tenho um antepassado Jeremias!), estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão? O governo israelita, por conveniências políticas diversas (eleições em breve...), é hoje de facto o governo mais anti-semita à superfície da terra!
- Onde andam o Sr. Blair, o fantasma do Quarteto Mudo, o Comissário das Nações Unidas para o Diálogo Inter-religioso e os Prémios Nobel da Paz, nomeadamente Elie Wiesel e Shimon Perez? Gostaria de os ouvir! Ergam as vozes por favor! Porque ou é agora ou nunca!
- Honra aos milhares de israelitas que se manifestam na rua em Israel para que se ponha um fim ao massacre. Não estão só a dignificar o seu povo, mas estão a permitir que se mantenha uma janela aberta para o diálogo, imprescindível de retomar como único caminho capaz de construir o entendimento e levar à Paz!
- Honra aos milhares de jovens israelitas que preferem ir para as prisões do que servir num exército de ocupação e opressão. São eles, como os referidos no ponto anterior, que notabilizam a sabedoria e o humanismo do povo judeu e demonstram mais uma vez a coragem dos judeus zelotas de Massada e os resistentes judeus do Gueto de Varsóvia!
Vergonha para todos aqueles que, entre nós, se calam por cobardia ou por omissão. Acuso-os de não assistência a um povo em perigo! Não tenham medo: os espíritos livres são eternos!

É chegado o tempo dos Seres Humanos de Boa Vontade de Israel e da Palestina fazerem calar os seus falcões, se sentarem à mesa e, com equidade, encontrarem uma solução. Ela existe! Mais tarde ou mais cedo terá que ser implementada ou vamos todos direito ao Caos: já estivemos bem mais longe do período das Trevas e do Apocalipse.
É chegado o tempo de dizer BASTA! Este é o meu grito por Gaza e por Israel (conheço ambos): quero, exijo vê-los viver como irmãos que são.
(Fernando José de La Vieter Ribeiro Nobre)

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do texto. Mas há algo mais que é preciso dizer:
O principal aliado do estado criminoso de Israel, e os seus maiores cúmplices, são os Estados Unidos da América. O estado de Israel nunca se atreveria a matar, torturar e violar, em tamanha escala, sem a conivência do governo desse País cujo Presidente, um "palhaço" perigoso, ainda hoje disse que os culpados da guerra eram os Palestinianos.

Anónimo disse...

Numa segunda leitura há um ponto com o qual não posso concordar. Quando se escreve "Como pode um povo que tanto sofreu, o judeu ... estar a fazer o mesmo a um outro povo semita seu irmão?" está-se a cometer uma generalização injusta.
Estima-se que o "povo judeu" compreenda entre 13 e 14 milhões de pessoas. Dessas, apenas 5,3 milhões vivem em Israel (e outras tantas nos EUA). É portanto injusto culpar todo o "povo judeu" pelas atrocidades cometidas por Israel (particularmente se dentro do próprio Israel, há judeus que não estão de acordo com os actos do seu tresloucado governo).

Gostaria também que se entendesse do meu último comentário, que não era minha intenção condenar todos os cidadãos Norte-Americanos pela cumplicidade nos actos assassinos do governo Israelita. Haverá de certeza dezenas de milhões de Norte-Americanos que não devem ser culpabilizados. Aliás, a maioria dos Norte-Americanos deu um claro sinal de pretender (pelo menos algumas) mudanças ao eleger o novo presidente.

Finalmente, gostaria de louvar a integridade dos elementos deste blog chamado "De Belazaima a Nova Iorque" ao aceitarem o meu anterior comentário, tão crítico em relação aos EUA.

Anónimo disse...

Gostaria ainda de recomendar a leitura de Palestina Vol. 1: Uma nação ocupada (ISBN-10: 972-8576-06-4) e Palestina Vol. 2: Na Faixa de Gaza (ISBN-10: 972-8576-07-2). O autor é o Americano Joe Sacco, com prefácios de Mário Soares de Edward Said, respectivamente.
Trata-se de um testemunho bastante elucidativo do que se passava no início dos anos 90 naquela região do mundo (na essência não muito diferente do que se passa agora). Para além disso, fornece uma valiosa contextualização histórica. Falta dizer que se trata de uma (obra-prima da) Banda Desenhada.

"Um Deles","O Outro" e "Um Só" disse...

EstranhoBelo: é com muito gosto que publicamos os comentários dos que nos honram com a sua visita. Aqui não há censura. Somos irónicos, sarcásticos, e gostamos de humor negro. A tolerância tem aqui o seu lugar e toda opinião é respeitável, desde que fundamentada e sem insultos gratuitos, que somos todos filhos de boa gente. Continua a participar sempre que quiseres. Saudações bloguistas.
"Um deles"

teresa g. disse...

O Dr Fernando Nobre sabe do que fala, e não é o tipo de pessoa que distorce factos para atingir um qualquer proveito. Por isso confio que o que ele diz seja a verdade verdadeira. No entanto, como já disse, acho que o outro lado, se pudesse, faria o mesmo ou pior. Infelizmente ainda são poucos (cada vez menos?) que acreditam nos princípios da não-violência.

Parece-me que a cumplicidade que o EstranhoBelo fala se deve simplesmente (embora neste assunto nada seja simples) ao poder, em grande parte financeiro, que os judeus americanos têm nos EUA. Vai sempre tudo dar ao mesmo, não é?

De qualquer forma que autoridade teria o sr Bush a esta altura do campeonato...

Anónimo disse...

Já ninguém fala no assunto. A actualidade passou e a tendência é esquecer e dar mais atenção às últimas "bombas" noticiosas. Os próprios escândalos que têm vindo a público abafam-se assim. Uns aos outros...

Gostaria, no entanto, de referir que o melhor texto que li sobre o conflito Israelo-Palestiniano encontra-se no seguinte link (não o vou reproduzir aqui porque é demasiado extenso):
http://ptattac.wordpress.com/2009/01/20/a-civilizacao-dos-barbaros